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21 de mai. de 2010

A CRIANÇA E A RELAÇÃO COM SEU CORPO_percepção desta semana.

A grande e profunda característica da turminha na faixa etária de dois anos, é a capacidade de adaptação às mudanças. Em minha turma, novamente a professora, substituta que na semana passada havia se retirado para trabalhar em outra área, arrependeu-se e retornou. Observei que as crianças não perceberam que ela havia retornado porque não haviam detectado a sua saída. Isso ocorre devido às freqüentes mudanças que ocorrem nesta turminha. São tantas professoras que entram e saem (sempre as mesmas), que as crianças acreditam que faz parte da rotina. E, faz!

A profª retornou tão modificada e feliz! Neste retorno teve que fazer a escolha de voltar e descobrir que ser professora é a sua vocação. Percebemos todos com alegria que finalmente nossa colega descobriu o que já sabemos: Ser professora é nossa vida!

Uma coisa descobri: Quanto à um dos meninos que me preocupa por que quase não fala, decidi, eu mesma estudá-lo mais e melhor e, percebi que por causa das atividades direcionadas, ele acabou por interagir mais com os colegas e observei ele conversando com os coleguinhas. Constatação: Sua dificuldade é de socialização. Preciso colocá-lo mais em oportunidades em que possa construir relações com os colegas. Talvez desenvolver sua autonomia, pois, percebo que ele tem dificuldades em ações que exigem uma relação com o próprio corpo: fazer cocô na escola porque sabe que precisará se limpar ou chamar a professora para que lhe auxilie, por exemplo.

“A criança tem o corpo como meio de ação e reação através da noção do próprio corpo, a integração das noções de relação com o exterior...e a conexão com outras pessoas, através do contato corporal, da evolução dos gestos e da linguagem” (REVISTA DO PROFESSOR, PORTO ALEGRE, 8(30): 12-18, ABRIL/JUNHO. 1992)

Nas atividades livres, fora do planejamento, aproveitei para improvisar as brincadeiras conforme o interesse momentâneo das crianças. Na 4ª feira por exemplo, um aluno trouxe um balão e todas as crianças queriam brincar de balões. Enchemos balões e a sala de aula virou uma “festa de aniversário” (de faz de conta).

As horas da rodinha transformaram-se em momentos esperados por todos. Passei a demonstrar todos os dias, as aprendizagens que eu queria desenvolver com as crianças, através de contos e interpretações. O piniquinho foi pra rodinha, sempre acompanhado de um bebê e com ele acompanhamos durante a semana as possibilidades do desenvolvimento de uma criança desde o seu nascimento. Com isso as crianças passaram a ter interesse em superar desafios e alcançar algumas conquistas porque o bebê também podia crescer e fazer. O momento mais impressionante da minha vida profissional, aconteceu na quinta feira quando depois da rodinha, uma aluna que usa fraldas, após fazer cocô na fralda, foi sozinha ao banheiro e colocou o cocô no vaso, dando tchauzinho e tudo. Foi tão emocionante! Como, para uma criança de dois anos, as mensagens são absorvidas com tamanha profundidade e rapidez! Ainda na referência citada acima, o texto aponta “os gestos do corpo que vão levar o indivíduo consciência de seus limites e possibilidades”.

Ainda apresentando atividades conforme o interesse dos alunos na “hora da brincadeira livre”: trouxe os jogos de quebra-cabeças, de encaixar, de formas geométricas e blocos de madeiras etc., para observar até onde as crianças conseguiam compreender os processos do jogo. Surpreendi-me, ainda bem! Um aluno que tem a característica de estar sempre de mau humor e não ter interesse pelas brincadeiras, demonstrou muito interesse por quebra-cabeças e esta num estágio de construção do conceito de conservação. Ainda flagramos ele colocando todas as bonecas em ordem para que todas pudessem ser protegidas com o cobertor e receberem a sua atenção. Este sentimento de sensibilidades se dá ao fato de estar, construindo uma relação com um irmão o qual não mantinha contato.

Aproveitei a deixa de uma aluninha que havia trazido uma boneca sem calcinha para a sala (queixou-se que na casa dela não tinha calcinhas de boneca) e, juntos, costuramos calcinhas para todas as bonecas da sala, afinal, para fazer xixi e cocô no piniquinho ou no vaso, é necessário tirar a calcinha.

Direcionei meu foco para as questões de relacionamento com o próprio corpo e percebi que todos sabem ajudar a colocar suas próprias roupas. Segurar o punho das blusas, por exemplo. Erguer a perna para colocar a calça, tirar casacos. Os que fazem, é porque não tem o costume e ficam imobilizados deixando as mamães fazerem tudo. Quando deixei de fazer para observar o quanto podiam, podem tudo. Percebi que ficaram surpresos de eu apenas ficar olhando lidar com suas próprias roupas, como se realmente não soubessem que isso fosse possível.

As crianças já construíram o conceito de rosto, já sabem o que faz parte de seu contexto e a disposição dos olhos, boca, nariz e orelhas. Sei disso porque nas cantigas, fazem sem imitar, mas, colocando a mão onde localizam-se. O bebê que está passeando nas casas das crianças já tem um rosto e um nome: Chama-se Quico e é um menino, as crianças estão bem empolgadas e demonstram uma relação afetiva com o bebê. Tem sido descobertas muito bacanas para mim.

Um exemplo dessas descobertas, também é, o cantar para todos os meus desejos. Em tudo o que quero falo cantando e as crianças vão obedecendo como se executando verdadeiras ordens unidas e toques de trombetas disfarçadas de canção. Sei lá, mas, é muito impressionante!

Devo registrar também que recebemos a professora nova, nomeada para vir comigo, assumir esta turma. Acredito que agora não haja mais tantas mudanças, pois, não necessitaremos mais de professoras substitutas.

15 de mai. de 2010

* SEMANA MALUCA: 4ª SEMANA DE ESTÁGIO.

    Em relação a 4ª semana do estágio, quero aqui reproduzir, algumas falas entre eu, a tutora Cristiane e a professora Darli. Não pretendo justificar a minha falta em não ter postado no blóg, mas, já justificando, a semana passada foi bem difícil, pra não dizer maluca.
   Disse em um de meus comentários no pbwork do estágio que " o planejamento estava incompleto porque a semana foi atípica devido as preparações e ensaios para as apresentações dos dias das mães. Queria primeiro, observar como os preparativos aconteceriam e incluí-los no planejamento. 

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"Certo Elisângela...
Passo amanhã aqui para ver o restante.
Cris,...
Elisângela!
Procure postar teu planejamento completo com antecedência SEMPRE na segunda-feira (no máximo).
Cris"

Eu retornei ao comentário dizendo que sabia dos prazos e que, especificamente nesta semana teríamos de ver quem veio, quem não veio e que na prática estávamos repetindo as atividades com quem faltava. Eram atividades para as mamães e todos deveríam fazer todas até sexta feira. Disse que eu estava com um número significativo de crianças com resfriado, que até vinham à escola e às vezes precisavam ir pra casa por causa de febre, etc. Se eu colocasse o planejamento da semana toda, não seria colocado em prática. Previ isso, com base na semana anterior e por estes motivos, o planejamento estar em aberto.
     A profª Darli comentou que como não completei meu planejamento e observou que não retomei ou dei continuidade às atividades da semana passada, sugeriu que acrescentasse a exploração da música A cara redonda e que brincasse com os alunos com um jogo chamado corpo a corpo. As crianças adoraram e para minha surpresa conseguiram realizá-lo.
    Agradeci pelas sugestões, que tentaria incluir no próximo ou próximos planejamentos, que o desta 4ª semana existia no papel, apenas foi unviável colocá-lo aqui no virtual. Foi uma semana assustadoramente cansativa em função dos preparativos para o dia das mães. Como as crianças são pequenas, faltaram bastante nesta semana em função de resfriados e das chuvas, eu tinha que retomar as atividades todos os dias para que todos as fizessem para a apresentação das mães .Se fez necessário trabalhar individualmente com as crianças em "trabalhinhos". Tudo isso acrescentando o fato que na minha turma, a colega professora, recebeu outra proposta de emprego e saímos totalmente da rotina. Falta de quem a substituísse, etc." O cuidar ganhou uma dimenssão assustadora e parece que os dias se resumiam entre fraldas, limpar narizes, administração de remédios, nebulizações, ensaio para o dia das mães e fazer trabalhinhos com quem não havia vindo nos dias anteriores".
   A profª Darli retornou acrescentando que meu comentário valeu por uma reflexão e tanto! "Na correria, parece que tudo se concentra numa mesma época, não?" E que os comentários em que eu havia feito na semana deixam evidente as características do nosso trabalho incansável como educadores. "A vida inquieta e instigante de uma professora da educação infantil está presente em cada frase que escreves".
   Achei interessante  fazer este relato por que nada explica melhor a 4ª semana do meus estágio, do que estes comentários do pbwork.

* DEVEMOS DEMONSTRAR O QUE QUEREMOS QUE AS CRIANÇAS COMPREENDAM

 Se as professoras orientadoras e supervisoras de meu estágio assistissem a hora da rodinha em minha turminha na última quarta feira, eu já estaria passada no curso PEAD sem precisar de nenhuma avaliação. Foi lindo! Que momento!
    No planejamento do último dia letivo da semana, estava programado a apresentação do bebê, este, feito de crochê ( por mim, rsrsrsrsrsrrsrs), sem rosto, sem roupas, apenas cabeça, tronco e membros. Mostrei o bebê, antes de colocar o último braço. As crianças formaram concretamente,  a idéia de que o bebê está em formação. Expliquei que todos irão receber o bebê em sua casa e, com a família, decidirem e acrescentarem o que ainda está faltando no bebê. Todas as crianças tiveram a oportunidade de dizer o que colocarão. A beleza disso tudo, é que, na semana anterior, ainda não possuíam o conhecimento de que no rosto ficam os olhos, boca e nariz, etc. E, neste dia, na rodinha, não só demonstraram que, no decorrer das atividades desta semana, aprenderam o que compõe um rosto, como, também, ampliaram seus conceitos na formação do corpo. Foi muito nítida esta evolução e quem sabe agora na próxima semana posso realizar a atividade sugerida pela professora Darli: “Enquanto é cantada a música CARA REDONDA...; As crianças desenham um rosto”. na semana passada, adaptei esta atividade, pegando no dedinho das crianças enquanto desenhavam e o desenho sendo feito em um rosto já moldurado. Meu objetivo foi exatamente em construir o conceito de rosto: consegui alcançá-lo.
    Esta atividade foi extremamente importante para que eles, agora, possam completar o bebê que irá visitar suas casas e voltará para a sala de aula após ser acrescentado algo. Este algo será discutido na rodinha para que as crianças compreendam o ponto de vista umas das outras.
    Observei que nesta 5ª semana de estágio, as crianças brincar muito mais de casinha. “Passaram a brincar de casinha”, como diz minha colega de sala. Depois de demonstrarmos como se brinca de casinha, elas viram pelo exemplo, pois, não sabiam o que fazer com os objetos da casinha, apenas remexiam neles aleatoriamente sem brincar com eles. Agora, brincam mesmo, umas com as outras e os objetos fazem sentido. Passaram a usar a caixa de fantasias e a trocar de roupas todo o tempo para olharem-se no espelho. Ensaiam performance e interpretam personagens. Isso é bem recente, coisa de uma semana para cá, depois que nós professoras começamos a brincar de casinha e nos vestir com as roupas da caixa de fantasias. Também observei que não estão mais interessadas nos jogos de montar, légos, etc. Acredito que antes manipulavam por manipular e terei de mostrar sentido nestes jogos também.
     Numa reportagem com o título “O que não pode faltar na educação infantil”, novembro de 2008, revista NOVA ESCOLA, Texto de Beatriz Santo mauro e Luiza Andrade, afirmam que: “ Com cerca de 2 anos, a criança continua repetindo o que vê e também os gestos que guarda na memória de situações anteriores, tentando encaixá-los no contexto que acha adequado”. Por isso a importância de nós adultos, demonstrarmos o que queremos que as crianças compreendam e, fazer de nossas atitudes, lembranças que tenham significados para que elas possam adequar em suas próprias experiências.

1 de mai. de 2010

IDENTIDADE PRÓPRIA--> IDENTIDADE SOCIAL-->NECESSIDADE DE COMUNICAR-SE = FALAR

       Com base nas constatações feitas no relatório de estágio da segunda semana, direcionei meu olhar para aprendizagens que meus alunos precisavam construir, antes de constituir seu próprio corpo, como indivíduos. Ter noções do que faz parte do rosto, por exemplo. Foi muito interessante a atividade da rodinha na segunda feira. Alguns alunos não quiseram de forma alguma, pegar um bonequinho da chamada, com os símbolos, porque este não era o seu. Percebi o quanto eles se apegam a determinados objetos como sendo seus e a dificuldade em conceber a idéia que “há mais coisas no céu e na terra que não são suas” e, que podem relacionar-se com elas. Óbvio que há alunos com uma maior maturidade e pegaram os símbolos de seus colegas e entregaram para seus respectivos representantes, mas, o que me chamou a atenção, foi esta relutância em até mesmo pegar na mão um objeto em que eles tinha plena consciência de não pertencê-los. Nestes casos também choraram quando outra criança pegou seu símbolo.

       Sélia Silva Guimarães Barros, em seu livro PSICOLOGIA E CONSTRUTIVISMO (pág. 168), diz que o ser humano vivencia dois momentos em ser membro de um grupo social: socialização primária e secundária. O primeiro em que o bebê é apenas um ser biológico, vai se tornando membro da família e de seu bairro. Escola, é então, um grupo social que faz parte do processo secundário. Levamos em conta, agora, o fato de esta criança estar sendo inserida em um grupo social, ainda na idade em que alguns aspectos do desenvolvimento infantil (Piaget), não estão estruturados como aprendizagens, conhecimentos e concepções. Temos de tomar cuidado, então, esta criança, não possui dificuldades de relacionar-se, como já li em muitos pareceres descritivos, mas, não experienciou situações e nem alcançou maturidade para compreender alguns conceitos de identidade social. Sélia diz que a socialização primária é um processo que se internaliza na família. O que esperar de crianças que aos dois anos de idade chegam a ficar das 7 horas às 18h. na escola, e, quando chegam em casa, vão dormir por que as necessidades biológicas assim determina? A escola passa a ter que fazer o papel da família. Detalhe, não é a constituição familiar real da criança que às vezes é filha única, por exemplo. Tudo entra em conflito e algumas lacunas podem se estabelecer de forma importante na formação da identidade destes sujeitos. “ A mente da criança irá absorver aspectos da realidade que estão na mente dos adultos com quem convive, seus sentimentos para com a vida, suas atitudes, seus valores” (Sélia Barros, pág.: 169).

            A música trabalhada esta semana rendeu muito mais que minhas expectativas. Cantar com as crianças: “Janela, janelinha, porta, campainha, piiibiiit”, gesticulando com os dedos nos olhos, boca e nariz, perceberam seu rostinho com estes “objetos” estranhos. Estranhos, porque mesmo sendo do seu rostinho, eles pareceram ter vida própria (animismo). Mas, o importante, neste momento, foi elas se darem conta de que em seu rosto existem os olhos, a boca e o narizinho. Que também, nos outros indivíduos o rosto tem a mesma contextualização. Quem sabe não avançamos um pouquinho no processo de reconhecimento do outro (cantaram colocando o dedinho no rosto do coleguinha)?

           As garratuchas do desenho da história receberam uma moldura e no dia seguinte, eles mesmos tiveram oportunidade de ver suas obras de arte valorizadas e guardaram identificando suas pastinhas.

           Esta semana, o menino que estava mordendo freqüentemente seus colegas, não mordeu ninguém. Foi importante eu ter me dado conta de que ele estava chamando a minha atenção, passei a super valorizá-lo em suas ações legais. Quando por exemplo, ele buscava pela mão, um coleguinha que não respondia as ações orientadas por mim. Ele estava eufórico, radiante de alegria, por ser recebido pela mãe, no final do dia e contar que “hoje se comportou direitinho”. Tenho mandado recadinhos em sua agenda, parabenizando por ter comido toda a comidinha do prato, etc.

           O Choro da aluninha a qual mencionei nos relatórios anteriores ainda me preocupam. Conversei com a mãe e ela manifestou algumas angústias familiares. Encaminhei ela para uma conversa com a psicóloga. Entre outras, a mãe está com um sentimento de culpa muito grande em estar trabalhando fora e ter que levar os filhos para a escola. Deixou escapar que a menina está dormindo na cama com os pais, Zulema A. Garcia Yañez, em uma palestra que assisti esta semana na PRIMEIRA CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE N.H, questiona: O que as crianças precisam ainda carregar de casa, quando não conseguem se desprender e vivenciar outros ambientes em seu cotidiano? Porque precisam trazer consigo, objetos, membros da família e/ou lembranças? Ela diz que não nascemos sujeitos, vamos nos estruturando sujeitos. Acredito então que se uma criança não se constituiu ainda sujeito da própria família, terá dificuldades de identificar-se como um sujeito social. Então, esta menina não está sendo vista como sujeito no núcleo familiar, falta-lhe atenção, não está sendo percebida como indivíduo e sim como uma extensão da mãe (suposição minha com base em minhas concepções).

           Zulema observa que há poucos laços simbólicos parentais, quando nossos alunos estão chegando na escola cada vez mais cedo. Os pais trabalham o dia todo e à noite não têm momentos de qualidade com seus filhos. Lembra-nos da importância de colocar a criança como interlocutora dos diálogos. Quando, também, uma criança não é suficientemente atendida por seu primordial, está sujeita, muito mais, a transtornos em seu desenvolvimento. Enquanto educadores, estarmos atentos a estas questões porque nesta faixa etária de 0 à 3 anos, nosso trabalho é na construção de SERES HUMANOS. Devo registrar que no passeio que fizemos esta semana no bosque nos arredores da escola, a menina a qual mencionei acima, ficou radiante de alegria, sorria muito e estava muito feliz. Neste passeio as crianças aprenderam conceitos como lááá no alto, láááá em baixo, subir, descer, auto confiança, ser valorizadas em superar obstáculos, descobrir que podem, além de conhecerem os nomes das coisas que fazem parte daquele ambiente. Observei que crianças que não falavam, repetiam sem perceber, frases ditas em coro, com a professora e os coleguinhas. Até a noção de números foi trabalhada, na medida em que, um por um, desfilou nas escadas, superando o medo e contando os degraus na sequência até 11. Tenho certeza que algumas crianças perceberam que os números servem para quantificar, da forma deles, é claro. Porque, posteriormente, no balanço da pracinha, tiveram a iniciativa de contar as embaladas para que a próxima criança tivesse chance de também, se embalar. Este passeio foi eternizado com uma atividade improvisada: cada criança escolheu uma folhinha do chão, levou até a sala de aula com muito carinho, “pois era um bebê” que posteriormente foi colada em uma almofada de espuminha, pintada pelas crianças com o dedinho e tinta, contendo um cartãozinho registrando o momento.

        Uma das crianças que não falava, não porque não sabe falar, mas, porque não conseguia relacionar-se com o outro, está falando. Observei nos vídeos que esta semana passou a participar ativamente nas atividades da rodinha, está fazendo os gestos e cantando. Vi ela um dia destes, de mãos dadas com uma coleguinha, na pracinha cantando juntas. No refeitório, na quarta feira, ela passou a pedir mais, o que desejava repetir. Super valorizei a ação dela e ela até sorriu.

         A aluna que tinha dificuldades em chegar na escola pela manhã, está chegando: CHEGANDO! Está até sentando com os coleguinhas, para assistir desenho enquanto esperam os demais chegarem; Está brincando aos pares móveis dentro da sala e na pracinha da escola e sentando na rodinha; Está demonstrando prazer em fazer isso, quando há poucos dias atrás, rejeitava toda e qualquer atividade em que ela faria parte de um grupo. Percebi que quando a mãe passou a confiar na escola e na professora para ficar com sua filha, a menina passou a ter confiança e sentir-se concedida a gostar da escola.

         Tenho conversado com algumas mães para considerarem a fala de seus filhos como interlocutores nos diálogos. Perguntarem e ouvirem o que seus filhos querem dizer. Observei também a importância de darem a eles, alimentos que fortalecem a musculatura da boca e da língua, como por exemplo, comer cenoura, maçã, etc. A dentista fez uma avaliação nas boquinhas da turma toda e constatou que algumas crianças já estão com a formação da mandíbula prejudicada pelo uso da chupeta e com o costume de algumas crianças chuparem o dedo. Aproveitei esta situação para falar com as mães relacionando com a oralidade. Aos poucos devem iniciar o processo de tirarem o uso do bico com seus filhos e que isso ajudará no fortalecimento muscular que proporciona estrutura para a voz. Com isso as crianças começarão a falar mais e melhor. Acredito ter chamado a atenção para estas questões. Houve uma criança que não se sentiu segura em mostrar a boca para a dentista, a Júlia, fiz esta intervenção então, no meu colo, eu abri a sua boquinha e a dentista pode fazer a avaliação. Não tinha percebido que esta menina tinha a mim como referência de confiança. Ela brinca com todos e interage super bem na escola.

           Lembramos que na semana passada, as frequentes mordidas haviam me preocupado. Nesta semana assisti uma palestra da Dr. Luciane Facchini e ela brilhantemente coloca que crianças com atividades dirigidas, não terão tempo de disputarem posses de brinquedos e espaços na escola. Isso me remete a importância de eu planejar minhas aulas, muito além da rotina pré-estabelecida, com ações que levam a exploração do ambiente e experienciação tendo como instrumentos todos os recursos que a escola proporciona. Por exemplo, no encontro de formação, sexta feira à noite, que tratou do tema “ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO NA ESCOLA INFANTI, texto de Maria C. S. Barbosa e Maria da Graça S. Horn (cap. 6), me dei conta de que, eu não sabia se todos os meus alunos, agora 21, já haviam explorado todos os brinquedos da pracinha . Tenho que fazer estas experiências na próxima semana e tenho certeza que mais do que observar se alguma criança tem algum medo, a superação deste, por meio da confiança será um importante passo no amadurecer e sentir-se capaz de superar os desafios. Barbosa e Horn nos diz que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos das crianças. Este texto nos dá várias sugestões para o planejamento das aulas e que devemos considerar que devem ser atividades que envolvam o cuidado com a saúde, que todos os momentos podem ser pedagógicos e ao mesmo tempo devem atentar para a construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e social. O momento da escovação dos dentinhos, por exemplo, as crianças aprendem a ter amor pelo próprio corpo e a cuidar deste corpo com carinho. A psicomotricista Zulema relata que muitos casos diagnosticados erroneamente como transtornos psicomotores, nada mais é, do que crianças que não sabem administrar o próprio corpo porque algumas mães ainda insistem em tratá-las como bebês.

            Ainda nesta semana, foi realizada a atividade de observar-se no espelho. Esta foi feita, de forma que as crianças não perceberam que era direcionada. Percebi que, acreditando que era da vontade delas olhar-se no espelho, até disputaram este momento cantando a música: “Janela...”, observando o próprio rosto. Quando tiveram a oportunidade de escolher os olhos, nariz e boca para colar na atividade que formaria um rosto e seria uma imagem para também cantar a cantiga, aprenderam que é necessário dois olhos, um nariz e uma boca para representar um rosto, mais que isso, perceberam que todos são diferentes e mesmo assim formam um rosto. Com isso trabalharam a construção de identidade social, a aceitação do diferente como “igual” e que existe algo mais no corpo além do rosto.

            Foi interessante imitar sons e onomatopéias (os barulhinhos que os animais reproduzem). As crianças que não falam em situações cotidianas em que necessitam de autonomia, na hora de repetir o que o porquinho faz, por exemplo, fazem, no mínimo um esforço para dizer: croc, croc.

            Percebi que tendo como foco neste projeto O Desenvolvimento da Oralidade, tenho de planejar atividades relacionadas ao desenvolvimento da autonomia, a construção da própria identidade e da identidade enquanto sujeitos sociais. Acredito que isso se dá ao fato que o falar = a comunicar-se. Para comunicar, deve existir o que, porquê e para quem, e, se, a criança não se vê como sujeito, não se reconhecerá fazendo parte de um grupo e não haverá a necessidade de comunicação, nem de si mesmo e nem numa interrelação. Para o planejamento da próxima semana pretendo trabalhar com atividades que estimulem mais intensamente o fortalecimento dos musculatura da boca responsáveis pela voz e a necessidade de falar.